sábado, 27 de agosto de 2011

No Erges aprendeste a nadar...

Antes mesmo de sair de casa, já ele dizia que não iria entrar no rio, que a piscina era melhor, que no rio só havia rochas, que algo nos picava as pernas, quando estávamos dentro de água, e que as cobras andavam por ali…
Não insisti com ele, pois entretanto já havia vestido os calções de banho, e já levava debaixo do braço, o barco telecomandado. Foi até o primeiro a entrar para o carro.
“-Eu só vou para experimentar o barco…” – afirmava ele, querendo convencer-nos a todos, que não iria acontecer algo, que ele tinha tanta vontade…
Quando chegámos ao rio, o calor era tanto, que a “famelga” não resistiu e fomos todos para dentro de água. Estávamos em finais de Junho, e como o Inverno havia sido “chuvosamente” generoso, o rio ainda tinha bastante água.
Escolhemos a parte em que a ribeira de Arades se encontra com o Erges, e aí, nessa água corrente e límpida, acabámos por passar muitas outras tardes.
Mas logo no primeiro dia, quem afirmava a pés juntos que nem sequer iria entrar dentro de água, mal demos por ele, já estava a banhos…
“-Eu só entrei porque vocês estão todos cá dentro, mas nem sequer vou molhar a cabeça…” – continuava ele a tentar enganar-nos.
E mal deu tempo para darmos umas braçadas, já ele havia mergulhado, e brincava feliz dentro de água.
Como era teimoso, e nunca queria dar o braço a torcer.
Tínhamos ali a melhor das piscinas, e só para contrariar, continuava a afirmar, que a piscina das Termas era melhor, e que até a água sabia melhor, porque tinha cloro. Imagine-se!
Claro que depois de se apanhar dentro de água, nunca mais de lá saía, a não ser para subir para as rochas, e atirar-se para dentro de água novamente:
“-Lá vai bomba!” – dizia ele, feliz da vida, criando o seu próprio tsunami que refrescava as rochas mais próximas.
E as bombas repetiram-se por muitas outras tardes.
Tardes de insistência, por parte de todos nós, para que fizesse um esforço e aprendesse a nadar.
Dizia-lhe o avô: “-Vá, aqui é que eu quero ver se consegues nadar”…
“-Eu só não nado, porque não quero, avô…” – respondia-lhe ele, sem dar parte de fraco.
E lá ia esbracejando, com os pés no chão…
Já havia tentado noutras águas; noutros mares. Mas mares tão revoltos, que nem sequer lhe permitiam boiar. Bebeu muitos pirolitos, e foi enrolado por muitas ondas, pelo que lhe parecia, com certeza, uma missão impossível de conseguir…
Mas aqui, nestas águas tão calmas, tinha agora a oportunidade de se tornar um “homem da Atlântida”...
Assim, depois de muita insistência da nossa parte, começou por treinar os “flutuamentos”, como ele dizia.
A dada altura, enquanto o segurava à tona de água, deitado de barriga para cima, pediu-me para o largar, confiante de que talvez se aguentasse a boiar.
Larguei-o e, lentamente, foi ao fundo.
“-Olha! A bóia ainda vai ao fundo.” – disse-lhe eu, na brincadeira.
A sua resposta pronta: “-Isso foi porque acabei de lanchar, mãe!”
E naquela calma tarde de Verão, ecoou no ar, o riso das nossas gargalhadas.
Ainda tenho esperança que um dia, venhas a ser tão modesto, que não tenhas vergonha de reconhecer as tuas fraquezas…
Passado pouco tempo, com a insistência de tantas braçadas, acabou por ser recompensado com a incrível sensação de nadar. E era vê-lo de óculos de mergulho, nadando por baixo de água, vasculhando o fundo com o olhar. Um "peixe" entre peixes...

Este Verão, meu filho, tiveste mais uma prova de que nunca se deve desistir daquilo que queremos. Só precisamos ter paciência e perseverança, que os resultados, mais cedo ou mais tarde, logo aparecem.
Este Verão aprendeste que nunca se deve desistir, e que se os outros conseguem, também tu o podes conseguir; apenas não podes ter logo esses pensamentos derrotistas à partida, e tens de acreditar mais em ti.
Terás tantos outros obstáculos a enfrentar pela vida fora... Nalguns tropeçarás, noutros cairás, e depois de alguns ultrapassados, te levantarás. E é disto que é feita a vida… Apenas, nunca desistas! Caminha com humildade e confiança em ti próprio, que conseguirás sentir-te realizado, em tudo aquilo que te propuseres…
Este Verão, ficar-te-á para sempre na memória, como o Verão em que aprendeste a nadar…
“Maior que a tristeza de não haver vencido, é a vergonha de não ter lutado”… E este lema, servir-te-á para tudo, para o resto da tua vida…

3 comentários:

Rui Pires - Olhar d'Ouro disse...

Obrigado Cristina pela visita e comentário no Olhar d'Ouro.
É um gosto ficar a conhecer o seu blog, mais um interessante espaço neste mundo da blogosfera!

João Celorico disse...

Olá, Cristina!
Férias e "doença súbita" e letal do meu computador, têm-me impedido de colocar o meu comentário.
Pois, é tal e qual como diz (escreve). Os tais "Dias inesquecíveis", são feitos destes pequenos nadas que, num repente, nos enchem a alma e se perpetuam nos dias da nossa existência. E o "cachopo" disto não se vai esquecer, pois quem se banha nas águas do Erges, fica a ele preso para sempre. É que foi logo 3 em 1. Natação, vela e pesca, e digam lá que isto não é um país de marinheiros! lol.

Abraço e tudo de bom,
João Celorico

Cristina disse...

Olá amigo João,
Espero que tenha tido umas boas férias. Quanto ao computador, de vez em quando, prega-nos dessas partidas. Também apanhei um susto desses no início deste ano; quase perdi as fotos e vídeos da família, as minhas maiores preciosidades. Não fora a ajuda do Sr. Jorge, e teria mesmo perdido tudo. Estamos sempre a deixar para amanhã fazer cópias de segurança, e depois…
Quanto ao que diz: “natação, vela e pesca…”, ainda não tinha pensado nisso assim, lol. Sem dúvida que, foi melhor sucedido na natação, porque os peixes, esses, não quiseram nada com ele…
Um abraço.