terça-feira, 22 de junho de 2010

Quando comecei este blog, foi com o intuito de homenagear meus avós e a sua aldeia; deixar a meu filho, memórias do passado, de tempos em que a vida era bem diferente, e ele nem faz ideia do quanto.
Entretanto comecei a pensar: como ninguém dura para sempre, um dia será ele a recordar a vida que eu lhe dei. As memórias que lhe deixei; enfim, todos os momentos passados.
Claro que espero que esse dia venha muitooooo longe. Mas até lá, vou aproveitando a dádiva de estar viva, e porque não, ir-lhe já deixando testemunhos dos sítios por onde passámos e daquilo que vivemos. É também uma maneira de divulgar outros locais e eventos que merecem ser divulgados.
Pois, por isso mesmo, vou hoje deixar aqui o testemunho de um evento que ocorreu Sábado passado, no Solar dos Zagallos, na Sobreda:

Houve festa no Solar:

Este é o décimo ano que esta festa se realiza, e eu nunca lá tinha ido. Fui este ano pela primeira vez e adorei.
Peguei no Tiago, mandei mensagem à Ana, e lá nos encontrámos os três.
Uma vez por ano, o Solar proporciona ao público um dia inesquecível, pleno de actividades, ateliers e workshops, provas de gastronomia típica, em pleno piquenique, concertos e outros momentos musicais, exposições e recriações de cenas de outros tempos, tendinhas de venda e divulgação de produtos artesanais, etc…
Tudo isto decorre numa viagem ao século XIX, época de damas e cavalheiros nobres, num pequeno palacete e jardins românticos.
Assim que entrei, pelo lado do jardim, deparei-me logo à entrada, à sombra de uma árvore, com a pitoresca cena de uma camponesa, sentada numa manta de retalhos fingindo estar a fazer um piquenique. Iam pessoas a entrar à minha frente, pelo que levaram com a salvação de “boa tarde”, acompanhada de um sorriso da dita camponesa. As pessoas murmuraram entre dentes, uma resposta de “boa tarde”, mas sem sorrisos e sem dar “confiança” à camponesa… As pessoas que assistiam sentadas nos bancos de jardim à volta até se riram e comentaram: “mas que grandes trombas de elefante…”
Realmente! Recebem um sorriso do século XIX, mas no século XXI, parece que já ninguém sabe sorrir. Eu bem estou sempre a dizer que nasci no século errado. Se calhar por isso, é que gosto tanto de entrar em locais históricos como este. Talvez noutra vida tenha sido uma dama da Corte de algum rei… Quem sabe!?
Logo ali perto encontrava-se uma bancada de antiguidades, à qual não resisti tirar umas fotos. A Ana deteve-se numas botas, dizendo que pareciam iguais às que ela calçava em criança, e o estojo de compassos completo, como usavam antigamente na escola…

Mais uns passos e eis que nos deparamos com estas figuras: um nobre, algumas damas e uma criada, que passeavam juntos.
Como me viu a tirar fotos a seus belos trajes, perguntou-me se tínhamos acabado de chegar. Respondi que sim.
E aí, com seu ar de importante pessoa que era, pediu à criada que abrisse a caixa que transportava, para ela tirar 2 papéis de lá: um explicando a importância de um baile, e de como dar um baile, e o outro explicando o que se deve fazer, quando se recebe um convite para um baile…

Agradeci tal amabilidade e perguntei: “e que tal uma foto aqui com a criança para a posteridade?”
- Uma foto?
Fica pensativa e responde: “sim, pode ser uma foto.”
Mas depois lembrando-se que provavelmente naquela época ainda não tinha sido inventada a máquina fotográfica, rematou: “ou seja lá o que isso for”, lol…
E aqui a criança sorriu mesmo com vontade para “o passarinho”…
Continuámos caminho, e parámos numa banca de brinquedos tradicionais, todos feitos à mão. Um encanto. E era ver as crianças soprando em passarinhos de barro, com água dentro, cujo som enchia o jardim de alegres cantares de passarinhos…
Depois parámos no oleiro, que mesmo ali à nossa frente moldava e esculpia o barro.
É a roda que gira sem parar e as suas mãos hábeis que fazem a peça que dali nasce… Ele faz parecer tudo tão simples, mas quando somos nós a tentar, saem autênticos “trambolhos”…
Andámos mais um bocadinho, e tivémos a possibilidade de nos caracterizarmos como uma figura do século XIX. Aqui o escolhido foi o Tiago: de cartola, luvas, monóculo, cachimbo e bengala, sentiu-se um importante Senhor, e imaginou-se na pele de um possível dono desta quinta…

Mais uma bancada à frente e temos o gostinho do puro mel de rosmaninho, podendo assistir ao vivo, a um pouco da vida numa colmeia, com as atarefadas abelhas. Nunca tinha visto ao vivo um favo de mel… E diz a Ana: “e que bom que era chupar este mel…”
Ela, ao contrário de mim, cresceu no campo, por isso teve uma infância muito mais feliz e experiente.
De repente, uma música bonita alegra o ambiente. “Vamos apressar-nos, parece que o baile está a começar…”
E ao chegar ao fundo do jardim, eis o salão de baile montado. Só que desta vez, é para pessoas como nós, do século XXI.
Aqui uma professora de dança, ensina os passos correctos. De microfone na mão, lá vai dando instruções a quem se quis juntar a ela.
E depois quando pensa já estar tudo ensaiado, recomeça a música e vai cada um para seu lado, lol…
Comento para a Ana: “são muitos passos para decorar, isto é difícil…”

A pequena capela do jardim, hoje abriu as suas portas e lá dentro, sentado, tocava um talentoso músico. Como é lindo o som da velhinha guitarra portuguesa. Uma pessoa fica ali à entrada encantada com a música, e com os magníficos e antiquíssimos azulejos da capela…
Defronte, um pintor esboçava num papel estilo antigo, os rostos de quem conseguia manter-se imóvel por algum tempo, para que a obra de arte nascesse…
Dentro do solar, o deslumbre em cada sala…
“Mãe, não me importava nada de morar aqui…” – diz o Tiago.
“- Pois! Nem eu filho, nem eu…”
Diz a Ana: “aqui de Inverno nem se passa frio. Basta olhar para a grossura das paredes, como só antigamente faziam…”
Ao sair do solar, um carro de bombeiros antigo aguardava a curiosidade das crianças e dos adultos. E era vê-los a tocar o sino, como que a avisar do perigo, a sentarem-se no banco do condutor, sem conseguirem chegar aos pedais, e a explorarem cada recanto, cada utensílio que compunha o carro…
Quem teve a honra de fazer o encerramento da festa foi um grupo de mulheres cheias de ritmo: “As Tucanas”.
O público adorou!
Com uma parte dos instrumentos inventados, uns feitos de bidons ou restos industriais conseguem uma sonoridade única. O som forte e ritmado dos tambores até parece tocar dentro de nós.
“- Oh mãe, até parece que se sente o som aqui…” – dizia o Tiago, apontando para o peito e a barriga.
Está de parabéns este grupo, que não conhecia. Com temas inspirados nas tradições portuguesas, africanas e brasileiras, conseguiram captar a atenção e deleite do público, principalmente os mais pequeninos, que sentados no chão, olhavam espantados, como até de um rude bidon sai música…
E assim passámos uma tarde espectacular. Contei aqui apenas parte do que vi e vivi. Sim, porque se fosse a contar tudo, este blog virava um diário, e não haveria pachorra para me lerem até ao fim.
Saí do solar pelo sítio onde entrei, pelo lado do jardim, ou seja: fomos dar à manta de retalhos onde se fazia o piquenique. E agora quem lá estava não era a camponesa, mas sim o camponês.
A Ana não resistiu e pediu uma foto, sentada, junto ao farnel. Perguntou ao camponês se podia tomar a liberdade, e ele disse que sim.
Quando se levantou, disse-lhe: “e já agora, porque não tirar uma foto com o dono do farnel?”, que se encontrava sentado no banco do jardim…
“Venha cá menina, sente-se aqui. Faz de conta que estamos a namorar.” – aproveitou logo ele.
Como tomou a liberdade de lhe por o braço por cima, eu ainda fiz o comentário: “olhe não abuse, que no seu século, não namoravam assim…”
Ele respondeu com ar de maroto: “namoravam sim, mas era ao lusco-fusco…”
E para a foto, até ficou a piscar o olho. Pudera! A menina Ana até era jeitosa, loirinha e de olho verde…










segunda-feira, 7 de junho de 2010

Se ao menos eu pudesse...

Ai, se eu pudesse…
Trocaria num ápice a cidade pelo campo…
Trocaria a correria e a vida agitada, pela paz e pelo sossego…
Trocaria o ar poluído, pela inalação do ar puro e vivificante da intocada natureza…
Trocaria o barulho dos automóveis, pelo alegre chilrear de tanta espécie diferente de aves…
Trocaria o ar sisudo das pessoas, por um largo e sincero sorriso dos habitantes da vila…
Trocaria a desumanização das gentes da cidade, pela solidariedade e amabilidade dos Salvaterrenhos…
Trocaria o liso passeio, pelo piso incerto da calçada romana…
Trocaria a água engarrafada pela pureza da água da Fonte da Ribeira…
Trocaria a praia super lotada, pela margem do rio Erges…
Trocaria o vislumbrar de tanto edifício de betão, pelos montes e vales a perder de vista… Trocaria o pão cheio de conservantes, pelo apetitoso pão tradicional…
Trocaria a ida segura a uma frutaria, pelo apanhar e picar das amoras…
Trocaria os legumes e frutas sem sabor, que se estragam em poucos dias, pelo doce e saudável sabor de uma fruta apanhada de colher…
Trocaria o perigo para uma criança, de brincar nas ruas, pela liberdade de brincar pelos campos… Trocaria as noites a ver televisão, pelas noites a ver as estrelas…
Trocaria o relógio, pelo sino a cantar as horas na Torre do Relógio…
Trocaria o despertar assustado ao som do ruidoso despertador, pelo despertar ao som do cantar de um galo…
Trocaria o Sol a nascer escondido atrás de um prédio, pela beleza de se ir mostrando no horizonte…
Trocaria a falta de tempo, pelo tempo que no campo dá para tudo…
Assim é a vila de minha vida… Tudo isto e muito mais…
Trocaria minha vida na cidade, pela vida em Salvaterra…
Ai, se ao menos eu pudesse…

terça-feira, 1 de junho de 2010

A todas as crianças do Mundo, e a uma em especial: feliz Dia da Criança...

Ai como eu gostaria de voltar a ser criança.
Poder ter como profissão: brincar…
Ter como preocupações os vestidos e os penteados das bonecas…
Poder ter como obrigação a escola e o estudo, outra vez…
Poder passar o dia a cantar, sem pressa de crescer…
Poder viver num mundo de fantasia e de tanta imaginação…
Poder voltar a acreditar no Pai Natal, na cegonha e em tantas outras lendas ou histórias…
Poder acreditar que tudo é possível acontecer…
Poder viver rodeada de outras crianças minhas amigas, sem maldade, sem falsidade, sem cinismo ou fingimento…
Quem me dera poder apagar dos adultos estes sentimentos e fazer nascer neles, outra vez, um pouco de criança…
Quando oiço perguntar a uma criança, "o que queres ser quando fores grande?”, apetece-me logo responder: ser criança.
E hoje, dia da criança, apenas venho desejar a todas elas um Mundo melhor: alimento para todas, um lar para todas, agasalho para todas, amor, protecção, amparo; enfim, tudo aquilo que as crianças têm direito…
Ao meu filho em particular, desejo uma vida feliz e que ele um dia se torne um homem íntegro, respeitado e respeitador, um homem com valores, e que nunca se deixe corromper pelos males desta sociedade…
Desejo que não seja tão egoísta e dê mais valor ao que fazemos por ele. Talvez, quem sabe, um dia ele chegue lá; talvez um dia quando, também ele for pai…
Tanto tem de bom como de mau, mas como o amo incondicionalmente (uma palavra ainda demasiado grande para ele), venho deixar-lhe esta homenagem neste dia e dizer-lhe que é o meu Mundo e que deu um novo sentido à minha vida.
A ti meu filho, deixo aqui memórias de bons e maus momentos, sim porque olhando para uma foto, em que parece haver alegria, muitas vezes tive de me zangar contigo, só para tirares uma simples foto. Birras e teimosias do momento. Apesar de tudo, sei que um dia, destas não te lembrarás, e só recordarás os bons momentos onde juntos tirámos uma foto.





"Ser criança é acreditar que tudo é possível.
É ser inesquecivelmente feliz com muito pouco.
É tornar-se gigante diante de gigantescos pequenos obstáculos.
Ser criança é fazer amigos antes de saber o nome deles.
É conseguir perdoar muito mais fácil do que brigar.
Ser criança é ter o dia mais feliz da vida, todos os dias.
Ser criança é o que a gente nunca deveria deixar de ser".
Gilberto dos Reis