quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Há muitos anos que não vinha a Salvaterra no mês de Dezembro, desde que meus avós eram vivos…
Faz cá tanto frio, mas este fim-de-semana amenizou, e tivemos dois dias lindos.
Chegámos à vila na Sexta-feira já de noite, e logo à entrada fomos recebidos com as Boas Festas.
Ao chegar ao adro, apesar da tradição já não ser o que era, e na falta do madeiro, que costumava chegar sempre no dia 8 de Dezembro, temos também a Igreja Matriz e a capela da misericórdia iluminadas, como que prontas para a missa do galo do dia 24.
Ao chegar a casa esperava-nos uma braseira quentinha, e o abraço ainda mais quente de meus pais, que já não via há umas semanas.
Perguntei-lhes, então, pelo madeiro. A resposta foi: “nesta altura não há cá quase ninguém, e só já vão buscar o madeiro mesmo na véspera de Natal, para que passe toda a noite aceso, e possa aquecer os corações de quem ainda regressa à vila para a missa do galo”…
A tradição de outrora foi-se…
No dia seguinte acordei às 7:00h, e escusado será dizer que não voltei a adormecer.
Abri a janela e a neblina estendia-se pelos campos a perder de vista. Há uns anos que não via assim Salvaterra. Dizem meus pais que na semana passada o frio foi tanto, que cobriu de neve as serras à volta, tornando ainda mais bonita a paisagem. Só que a neve não aguentou até nós chegarmos, pois a chuva que veio depois, derreteu-a toda.
Oh, que pena não ter podido ver! - pensei eu.
Começa então a nascer o Sol, e ao olhar para o recinto do bodo, vejo carros a chegar.
Ah! Afinal ainda há gente mais madrugadora que eu: os caçadores, que pelos vistos vêm todos os fins-de-semana, para infelicidade dos animais que com eles se cruzam…
O Sol começa agora a nascer e começam a acordar as aves, cujos piares se misturam a meus ouvidos, não os conseguindo identificar.
Enquanto todos em casa ainda dormem, vou dar uma volta… O frio é muito, mas a vontade de rever Salvaterra é maior, e assim, faço-me ao caminho…
Os campos estão lindíssimos nesta época, se bem que os campos na Primavera também sejam bonitos, nesta altura estão mais verdes que nunca… Cheira a natureza húmida, as árvores estão quase despidas, nas oliveiras a azeitona “já está preta”, há musgo por todo o lado, e até nas fendas das rochas nascem plantas... Os cogumelos fazem agora a sua aparição... O frio é cortante, mas a alegria de andar por estes campos é maior. Lá em baixo, o rio vai cheio; tão cheio que passa por cima da ponte, interditando o trânsito…
Adoro os tons verdes, castanhos e dourados, com que a natureza se vestiu.
Lá em cima, as águias vigiam silenciosas…
A chuva foi tanta nos últimos dias que formou riachos por todo o lado.
Ah, como está linda Salvaterra…
Passámos dois dias em paz e sossego, e principalmente, junto de quem mais amamos…
Só é pena que Salvaterra esteja tão deserta; só é pena que já não haja quem faça cumprir as tradições…
Restam-nos as recordações de outros tempos…
À noite refastelámo-nos com castanhas assadas na braseira. Pensei que iam sair de lá todas queimadas, mas não… Fizemos como se fazia antigamente: dá-se uns golpes à castanha, abre-se uma covinha no meio das brasas, onde metemos a castanha, e tapamos com as cinzas. Nem sequer faz fumo e saem de lá bem assadinhas. Uma delícia…
A braseira aquece-nos o corpo, e o estarmos juntos, aquece-nos o coração…
Desejo a todos vós, que tendes paciência para me ler até ao fim, que também esta época tão especial aqueça os vossos corações, e assim os mantenha o resto do ano…
Boas Festas!