terça-feira, 10 de agosto de 2010

"Chegou ao seu destino…” Parte II

Apesar dos contratempos da viagem, este foi sem dúvida um fim-de-semana especial.
Perguntei várias vezes à Ana se gostou da nossa vila e ela disse que sim.
Optámos por ficar Sábado em Salvaterra e Domingo, já de partida para Lisboa, passar pelo Ladoeiro. Ainda iríamos a tempo de ver o concurso das melancias esculpidas (ou pelo menos, foi o que pensámos)…
Mesmo assim, penso que correu tudo bem.
Só houve uma coisa que nos estragava sempre os planos: o calor insuportável. Nem uma brisa corria. Só estávamos bem debaixo da mangueira ou do chuveiro no quintal. O Tiago então, de mangueira sempre na mão, deve ter tomado no Sábado, para aí uns 10 banhos, lol…
Ainda assim, mostrámos à Ana o máximo que pudemos de Salvaterra.
Levámo-la a ver o rio Erges, ou melhor: foi ela quem nos levou…
Não podíamos deixar de lhe mostrar o pelourinho do século XVI, no largo da praça, a Torre do Relógio, e a antiga Casa da Câmara, marco de que Salvaterra foi sede de Concelho até 1855…
Percorremos algumas ruas da velhinha Salvaterra, detendo-nos nos pormenores de certas casas.
“Estudámos” o monumento de homenagem aos antigos combatentes em ultramar.
Decifrámos a numeração romana inscrita no cruzeiro.
Visitámos as antigas escolas primárias, espaço onde outrora ecoavam risos alegres de crianças; hoje em completo silêncio…
E no café Capelo, soubemos que decorria nessa dia um passeio nocturno intitulado: “no trilho das estrelas e do contrabando”. Ainda fomos ao adro da igreja ver se havia possibilidade de também irmos. Mas já tinham tudo preenchido com 200 participantes já inscritos.
Pena que não tivéssemos sabido antes, e teríamos feito a inscrição a tempo. Mas depois também comecei a pensar: será que a Ana aguentaria tanto km a pé de Salvaterra à Zarza? Ela dizia que sim, que aguentava. Mas o que é certo, é que ela não está habituada a fazer caminhadas com tanto calor, ainda que a partida fosse só às 19h. Ela nem sequer gosta de usar chapéu. As poucas vezes que usou, quase tive de a obrigar…
Já se pôs cá muita gente doente, por causa do Sol, e não iria arriscar.
Mesmo assim, o rapaz que estava a organizar tudo, deu-nos um folheto com a informação do site onde pudemos estar actualizadas quanto aos eventos que vão ocorrer, e aí também, podemos fazer atempadamente a inscrição: www.turismodenatureza.com.
Faço aqui publicidade, porque são passeios muito interessantes, e com guias, o que é sempre melhor, do que fazer os mesmos percursos sozinhos.
E porque andar a pé é bom, faz bem à saúde e recomenda-se…
Pois não fomos ao passeio que estavam a organizar, mas acabámos por fazer o nosso próprio passeio, e fomos cansar a Ana na “rota dos abutres”.
Colocámos bastante protector solar, obrigámos a Ana a pôr o chapéu, e pusemo-nos ao caminho.
O nosso ponto de partida foi junto à Igreja Matriz, no adro, agora com o ninho vazio da cegonha, que já deve ter partido com os filhotes nascidos na Primavera…
Ao sair da povoação, fomos mostrando à Ana as furdas, que muita gente pensa ter servido só de abrigo para os porcos, mas na realidade são antigos castros: fortificações onde os audazes lusitanos se aquartelariam para, depois, lançar os seus ataques contra os invasores romanos.
Percorremos a calçada romana até à Caseta, o antigo posto da guarda fiscal. Aqui nos sentámos a descansar, e contemplámos a deslumbrante paisagem. Hoje, a Caseta tem gravada nas suas paredes, imensos nomes de quem por aqui passa e mensagens amorosas. Mas tem também gravada na mente dos sobreviventes desta terra, muitas das histórias de contrabando, que testemunhou… Tempos difíceis de quem tudo fazia para sobreviver e alimentar muitas bocas…
Do lado de lá do rio já se avista o Castelo de Peñafiel. Ali já é território da Extremadura espanhola. Com um pouco de sorte, podem-se ver os seus habitantes actuais, os grifos, ou abutres, pairando no ar. É nessa escarpa que nidificam.
E quem tiver paciência para esperar, também pode, um pouco mais acima da Caseta, meter-se dentro do observatório de aves, e aguardar o voo de quem vigia atentamente este território: os grifos, os abutres negros, os abutres do Egipto, a águia de Bonelli, a águia cobreira, a cegonha negra, o guarda rios, etc… Aconselham-se binóculos…
Da Caseta continuámos a descer, rumo à Fonte da Ribeira.
Quem ia à frente era o Tiago, que já conhece bem o caminho. Às vezes afastava-se e deixávamos de o ver. Mas era a pressa dele em chegar.
Numa dessas vezes, voltou a correr aflito para cima a dizer-nos: “já não podemos continuar… ali à frente está uma coisa perigosa, que eu nunca tinha visto, e já não podemos passar…”
A primeira coisa que me veio à cabeça foi um animal selvagem, e pensei logo num javali. Ainda fiquei a matutar, que faria se o bicho viesse atrás de nós. Por acaso não faço ideia de como proceder face a um javali. E que os há lá na terra, há…
Ou podia ser uma cobra…
Mas o Tiago não conseguia explicar o que era. Perguntei-lhe várias vezes se era um bicho, e dizia sempre que não. Mas não sabia o que era. Ele nem conseguia falar de tão assustado e ofegante que estava.
Que raio? Então já percorremos este caminho todo, e agora só por causa de algo, que nem sabemos o que é, não vamos poder chegar às gargantas do rio? O local que queria mesmo mostrar à Ana…
Não podia ser! Se não era bicho, então não nos devia fazer mal.
Fui à frente, com muito cuidado, e ao passar junto a um sobreiro de tronco grosso e alto, ouvi um zumbido enorme, de meter respeito. Também nunca tinha passado por uma colmeia habitada por um ruidoso enxame de abelhas. Confesso que também tive receio, mas pensei: se passarmos caladinhos, sem sequer olhar para cima, e rapidamente, talvez elas percebam que não estamos ali para lhes fazer mal, que até as respeitamos e só queremos passar pelo único caminho existente para a Fonte…
E quando vi que passei e nada aconteceu, fiz-lhes sinal para prosseguirem também eles calados. E quando nos voltámos a juntar, sem que nada acontecesse, confesso que até tinha perdido as forças nas pernas, lol…
Mas não fui só eu, porque até ao “corajoso” do Tiago faltaram, lol…
Ao chegar à Fonte da Ribeira pudemos recuperar as forças e refrescar-nos com a água fresquinha que ainda ali corre.
Descemos então, mais um pouco, e vamos dar às gargantas do rio Erges, com fragas admiráveis e seculares. “Tudo isto já faz parte do Geo Park do Tejo Internacional”, explico à Ana. Uma paisagem maravilhosa, onde nossos olhos se perdem… Um local que espero se mantenha sempre assim: puro e inalterado.
Claro que a paisagem agora é completamente diferente, pois no fim do Inverno e Primavera, o rio vai muito mais cheio e é mais bonito de se ver, pois forma cascatas onde a água corre fortemente.
Mas mesmo com pouca água, ainda continua digno de uma visita.
Para cima, não fomos pelo mesmo caminho, pois queria mostrar à Ana, uma frase inscrita de 1895, num local de muita paz e repouso dos que já partiram, uma frase em que ninguém pensa, no campo da “egualdade”.

“Ora aqui está uma grande verdade!” – dizia ela…


Para baixo, como se costuma dizer: “todos os santos ajudam”, agora o caminho para cima, de regresso a casa, é que foi mais penoso.
Chegámos a casa muito sujas, pois o pó colava-se ao protector solar; cheias de calor, cansadas, mas rejuvenescidas…
No Domingo não fomos a tempo de ver o interior da igreja matriz, pois quando abre, à hora da missa, estávamos nós a dormir…
Mesmo assim, antes de seguirmos para o Ladoeiro, ainda passámos no Chafariz da Devesa, ao pé da capela de Nossa Senhora da Consolação. Este chafariz, construído em meados do século XVIII, abastecia a povoação de água potável. Diz-se na placa informativa que ali colocaram, que servia também para as mulheres lavarem a roupa. O que é certo, é que não me lembro nunca de minha avó ter lavado ali a roupa, mas sim dos animais irem lá saciar a sua sede. Lembro-me bem, era da roupa lavada, em pedras bem escolhidas, no rio Erges. Era um dia de festa para mim: poder passar o tempo todo dentro de água…
Algumas coisas ficaram por mostrar à Ana, mas espero ter outras oportunidades, se possível com o tempo mais fresquinho, que é quando se anda melhor…

1 comentário:

Virginia lucia domingues disse...

achei o seu lindo blog hoje o qual para mim será excelente pois estarei, se Deus quiser em fevereiro, passeando por todos esses lugares..... vou realizar um sonho o de conhecer a terra dos meus avós.... obrigado por vc compartilhar... bjs