A lareira começava a aquecer a casa.
Aguardávamos com alguma impaciência a restante família que a nós haveria de se juntar.
Íamos tirando fotos. A criança e não só, ia passando várias vezes ao pé da árvore de Natal, tentando adivinhar o que escondia esta ou aquela prenda. Por vezes a curiosidade era maior e apalpava e abanava, tentando adivinhar pelo som que fazia ou não…
A campainha tocou! E logo a casa se encheu de mais calor e alegria.
Beijos aqui, beijos ali e a alegria de nos revermos a todos, e principalmente, de mais um ano passarmos juntos.
Mais umas fotos para o álbum, e eis que chega a hora de jantar.
E surpresa das surpresas quando se abre o tacho das batatas… Este ano a tradição foi quebrada… Já não teríamos o tradicional bacalhau com couves e batatas cozidas.
Com a alegria de nos revermos e tirar fotografias, até nos esquecemos das batatas ao lume, pelo que este ano teríamos puré de batata…
O desconsolo de minha mãe que nem acreditava, dizendo para meu pai:
“-Mas eu pensava que já tinhas apagado o lume às batatas…”
“-E eu pensava que tu é que estavas a tomar conta delas.” – respondia ele.
Vá lá, salvaram-se as couves e o bacalhau…
Que importa? Importa é que estávamos todos juntos outra vez.
O jantar foi animado, afinal há tanto que pôr em dia passado tanto tempo.
Não foi passado em Salvaterra. Foi passado longe, muito longe! Mas o longe depressa se tornou perto, quando se começou a falar do que por lá estaria a acontecer nesta noite: do madeiro no adro da igreja, das histórias de meus avós e dos chocolatinhos que minha avó ia comprar a Espanha para pôr nos sapatinhos dos filhos.
E a criança ouvia deliciada tudo com atenção. E ria-se e pasmava-se quando lhe expliquei que os sapatinhos deles naquela altura não eram botinhas como as de agora com o desenho do Pai Natal, penduradas na lareira, eram mesmo os sapatos que eles calçavam…
Não havia enfeites pela casa, nem luzinhas, nem árvore de Natal. E quem “dava” os presentes nessa altura era o menino Jesus. O Pai Natal surgiu anos mais tarde.
E com o decorrer da conversa, depressa passámos a estar em Salvaterra, revivendo o Natal de antigamente…
“-Faz quase 20 anos que o pai se foi…” – diz minha tia, a minha mãe.
E eu penso: 20 anos? Como podem ter passado 20 anos se me lembro tão bem de meu avô, e de minha avó que pouco mais durou quando ele se foi.
20 anos e parece que foi ontem. Como o tempo corre veloz… Como é cruel o tempo quando nos leva quem amamos…
Porém, não leva em nós a saudade e as recordações.
E foi assim a minha noite de Natal. Recheada de doces, de recordações, de alegria e união familiar. Que mais se pode desejar?
Mas o auge da noite ainda estava para vir…
Como o mais pequeno da família afirma constantemente que o Pai Natal não existem, este ano resolvemos pregar-lhe uma partida…
Há 3 fases na vida de um homem: quando acredita no Pai Natal, quando já não acredita no Pai Natal, e quando ele se torna o Pai Natal. E foi o que aconteceu esta noite…
Convencemos o avô a vestir-se de Pai Natal, para ver a reacção do neto…
Distraímos o neto para que não desse por falta do avô, metemos o avô na rua à meia-noite, lol, e voltei a correr para me juntar a todos.
Dlim, dlão!
Oh! Quem será a esta hora?
E vejo a cara de espanto de meu filho, pois já não esperávamos mais ninguém.
Mas logo ele perguntou: “-O avô? Onde é que está o avô?”
“-O avô está na casa de banho”, inventei eu à pressa.
Ele então, desceu as escadas a correr, abriu a porta da rua sem perguntar quem era e ficou espantado; completamente espantado a olhar para aquela figura de vermelho e com um saco às costas.
Nunca me hei-de esquecer da cara de espanto que ele fez. Acho que por um momento acreditou mesmo no Pai Natal.
Mas depois o Pai Natal falou. E claro que o neto que não é parvo viu logo quem era.
Mas também não se desmanchou e entrou na brincadeira dizendo-lhe:
“-Mas entra. Entra!”
E o Pai Natal entrou e foi risada total quando a restante família viu o avô mascarado.
E aí começou a distribuição das prendas.
Foi uma noite acalorada. Frio lá fora, mas muito “calor” cá dentro.
E até eu fiquei surpresa ao ver minha prenda, pois convenceste-me que iria ter um aspirador novo e afinal… Não esperava, amor. Não esperava mesmo!
Mas sabes? A maior e melhor prenda que posso ter todos os anos pelo Natal… és tu!
És tu, é meu filho, é minha família e meus amigos verdadeiros (que são poucos, mas são verdadeiros). Este é o maior bem que posso ter todos os anos. Só com isto já sou muito feliz!
E às vezes esperamos tanto a felicidade, e não vê-mos que já a temos…
Um dia de Natal muito feliz a todos, e continuação de uma quadra feliz!
Sejam felizes!

Desde pequena que sempre adorei o mês de Dezembro. Não pelas prendas, mas sim pelo espírito que parece renascer em todos nós (ou pelo menos, em alguns de nós). Acho que se fosse em todos, acabariam de vez as guerras no Mundo e viveríamos em respeito uns pelos outros, em paz e harmonia.