quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Quando terminam as férias...


O Verão está quase a terminar e a aldeia já chora os filhos que aos poucos vê partir, pela única estrada que lhe dá acesso. Estes levam na bagagem tantas recordações, momentos e emoções sempre aqui vividas. Levam lágrimas nos olhos, pois deixam para trás seus entes ou amigos queridos. É um pedaço deles que cá fica. Os seus olhos choram, o coração sente um aperto, na garganta um nó e a alma se entristece. Nunca se sabe se cá voltarão, pois a estrada da vida por vezes prega-nos partidas e termina a meio… Por isso se pede sempre, quando se parte, para cá voltar só mais um ano… E é vê-los partir, com os filhos ou netos no banco de trás, voltados para trás a acenar, a dizer adeus não só aos que ficam, mas também à aldeia que sabem ser deles, mesmo que não tenham cá nascido ou mesmo crescido. Será sempre deles, pois é aqui que estão e ficam suas raízes… E o conta-quilómetros vai passando, e eles vão-se afastando. E a saudade já começa a fazer-se sentir. Mas pensam que têm de voltar, pois a vida não é só feita de lazer ou férias. Para ganharem as férias neste local, têm de trabalhar noutro, longe, dentro ou fora do país… E lá se vão os emigrantes ou imigrantes, pela única estrada existente… Acenando às pessoas, às casas, ao campo, às árvores do caminho que parecem acompanhar-nos na corrida, durante grande parte do caminho, pelo menos, enquanto não chegamos à auto-estrada…


Quando viajo, tenho sempre a mesma sensação: à vinda parece que a viagem demora uma eternidade, à ida, chegamos tão rapidamente a casa, que até nos admiramos como pode ser o mesmo caminho. Deve ser porque à vinda, a ansiedade de cá chegar é sempre muita, daí parecer tão longo o caminho… E ao vê-los partir, esta pequenina aldeia fica ainda mais silenciosa do que já era. Só o sino da igreja corta o silêncio do ar com a badalada constante das horas. São tão poucos os que ficam, são tão poucos os que restam, os que sempre se recusaram a sair de sua terra. Mas ficam, e cá continuam o seu dia-a-dia, a maior parte com suas reformas míseras, dadas pelo nosso Estado, mas ficam, e cá vão sobrevivendo para sempre contar histórias de antigamente. Ficam, e ajudam-se mutuamente; são amigos solidários uns com os outros, são como que uma família, e sabem os problemas uns dos outros, as dificuldades por que passam, sabe-se tudo nesta terra. Sabe-se que o filho ou filha de fulano tal se divorciou, e ficou ou não com os filhos e como está a viver, sabe-se que fulano traiu fulana ou vice-versa, sabe-se das doenças que vão aparecendo… Sabe-se que fulano se doutorou em tal especialidade… Sabe-se do filho que nasce; sabe-se do filho que morre… Sabe-se de tudo aqui, mesmo que as coisas aconteçam longe… Aqui as notícias viajam à velocidade da luz e espalham-se que nem a chuva quando cai e se espalha pelos campos. Mas também se assim não fosse, de que falariam os poucos habitantes desta terra? Mas agora fala-se apenas dos filhos que partem e já deixam saudades. Fala-se da vida que levam por “lá”, e de seus empregos… Fala-se de tudo aquilo que sabem ou não sabem deles… É a saudade já a instalar-se. É o telemóvel que toca a dizer-lhes que chegaram bem e eles podem ficar descansados e reiniciar o seu dia-a-dia. Voltar para suas casas, agora tão vazias. E como ficam vazias as casas de quem parte… Como ficam vazias e silenciosas as ruas por onde andaram… Voltamos agora a prestar atenção ao som dos pássaros sempre alegres em final de tarde. E quando se ouve o barulho de um carro pensa-se logo: quem será que lá vem? Quando todos os outros partem… É o Verão que se despede, é a nostalgia do Outono que vai chegando. Antigamente com o Outono recomeçavam aqui as aulas, agora, já há muito a escola fechou, por falta de crianças… E é assim a minha aldeia. Sim, esta também é a minha aldeia, mesmo que não tenha cá nascido ou crescido… É e sempre será a minha aldeia, pois é aqui que estão minhas raízes…

6 comentários:

Quidam disse...

Pois é cara Cristina isso é stress pós-férias, essa nostalgia que ainda não tive o prazer de apreciar este ano, quem sabe um dia destes quando for de férias...
Agora aproveito a calma do ínicio de outono que por cá a população no verão aumenta 5 vezes com tanto banhista.
O sossego reina finalmente!

http://www.asteoriasdequidam.blogspot.com/

Anónimo disse...

vou seguir o seu conselho e vou até lá fora ver as folhas a cair, que por estas bandas ainda não há tv cabo.
bom fim de semana........

Haere Mai® disse...

Em boa hora chegou este teu espaço, minha amiga! E que bem que escreves! Terminam as ferias...regressa a nostalgia das mesmas! O outono é lindo! Como é maravilhoso ver a cor mutante das folha, que fazem o manto do chão!
Beijo azul...Sempre!

Anónimo disse...

Uma viagem pelo tempo e pela vida de muitos portugueses que nos leva até essa bela estação que é o Outono.

Gostei desta história bem viva, um beijinho com Amizade.

Anónimo disse...

oiii.. !!

nossaaaa cris.. !! que blog legal que voce fez.. !! gostei muito. de verdade.

Só achei que voce poderia colocar a Windgets de segdores nele. Assim a gente pode sabem das suas atualizações. !!

OUta coisa, não te vi mais lá no bloggers portugueses? porque ?

entre em contato comigo.. os endereços estão lá no meu blog, ou então la no portugueses.. !!!

super beijão, fique bem !!

ricardo praça
www.forcadeexpressao.com

http://portuguesebloggers.ning.com/profile/wwwforcadeexpressaocom

xx cuco xx disse...

Cara Cristina. Parabéns pelas palavras tão bem escolhidas para o tema. Fabuloso