terça-feira, 26 de abril de 2011

Este blog serve, não só para homenagear a vila de meus antepassados, mas também para deixar a meu filho, lembranças de momentos inesquecíveis passados, também ele aqui, na companhia dos avós.
Hoje ainda não dá o devido valor, a momentos que não voltam mais, mas sei que um dia, sorrirá só de os relembrar…
Este ano viemos para Salvaterra mais cedo, logo no dia 17. Domingo e Segunda tivemos um tempo espectacular de Primavera/Verão, mas na Terça tudo mudou, tendo chovido o tempo todo durante 4 dias, o suficiente para fazer crescer o rio.
Como o meu pai tinha tirado ao neto, no “Ayuntamiento de Zarza la Mayor” a devida licença para pesca, o Tiago teve esta Páscoa, a sua primeira experiência piscatória no rio Erges.
Assim, na margem espanhola do rio, era vê-los atarefados a preparar os anzóis e a lançar a linha…

O isco eram as minhocas que o Tiago apanhara no quintal, sonhando voltar para casa, com peixe para o jantar…
O avô que nunca fora pescador, nem tinha tido qualquer experiência a este nível, tentava ensinar o neto, o melhor que sabia. Deram tantas voltas ao carreto, que a linha se enrolou toda e ficaram ali imenso tempo a desenrolá-la. Até deu tempo para eu pegar no carro e ir a Ceclavín encher o depósito.
Quando voltei, estava já o meu pai a ensinar ao neto, como espetar a minhoca no anzol.


Espetou a minhoca, tendo ficado parte dela a abanar, para que os peixes vissem que o animal estava vivo e era um bom petisco.
Ao lançar a linha, tal foi a força que fez, que esta se partiu, levando com ela a chumbada, a minhoca e o anzol… E foi vê-los a voar, quase para a outra margem do rio… Claro, foi risota geral. A seguir foi a vez do neto preparar o engodo e lançar a linha ao rio. Como que por intuição, afastámo-nos dele; mesmo assim, o anzol prendeu-se nas calças da avó que estava por perto.
“-Foi o vento que me trocou as voltas…”- dizia ele.
E o avô à gargalhada afirmava: "Olha! Olha! O Tiago pescou um tubarão..."
Quando por fim, lá apanharam o jeito a lançar a linha, era vê-los felizes, porque sentiam o peixe de volta do isco, e já imaginavam o bicho temperado, pronto a ser cozinhado…


Só que quando puxavam a linha, vinha o anzol com a minhoca metade comida. Ah! Afinal os peixes deste rio, parece que de parvos, nada tinham.
Então a estratégia dos “pescadores” mudou: com muita paciência e mãos hábeis, espetaram a minhoca toda no anzol.
“-Agora, se a quiserem comer, hão-de ficar lá presos” – dizia o avô esperançado.
E o suspense de sentir o peixe de volta do isco repetiu-se. E quando enrolaram a linha, surpresa das surpresas, a minhoca desaparecera.
“-Mas como é que é possível?” – perguntavam-se indignados.
A explicação que encontraram é que a minhoca afinal sabia nadar e tinha fugido.
E a avó, que pacientemente tentava a sua sorte com os peixes mais pequenos, e uma rede, com os quais pensava enganá-los, só se ria.


E foi assim, uma tarde deliciosa para os peixes, e uma grande desilusão para os pescadores enganados.
Uma tarde que acabou com o céu a escurecer, e pequenas gotas de chuva a desenharem círculos no rio.
Como que adivinhando que os pescadores estavam de partida, viam-se peixes a vir à tona, e agitarem a água, como que dizendo:
"-Venham mais vezes, adorámos o petisco!"...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Este ano, em Salvaterra, por falta de festeiros, não se cumprirá a tradição do bodo.
Teremos à mesma a procissão, mas e depois?

Depois, segundo alguns conterrâneos, vai cada um para suas casas almoçar com as famílias…

Pois, eu proponho outra coisa: porque não irmos todos à procissão e depois cada um vai buscar o seu farnel, o qual o Sr Padre não se importará de benzer à mesma, e almoçamos no recinto do bodo, fazendo a festa à nossa maneira? Faríamos um enorme piquenique, e o mais importante: estaríamos todos juntos em pleno convívio.

Para mim não significa assim tanto este convívio, pois não sou filha “directa” da terra; mas para meus pais e outras pessoas da mesma faixa etária, tem um enorme significado reverem-se e poderem conviver. É o encontrar amigos que só se vêem uma vez por ano, amigos de infância, amigos de traquinices partilhadas e vidas sofridas. É o recordar de histórias felizes ou amargas… Com certeza, N. Sra. da Consolação ficaria bem contente por ver que seus filhos continuam juntos, e não dispersos pela vila.

Por isso, que se continue com a tradição é o que é preciso, ainda que um bocadinho modificada…

Uma Páscoa Feliz a todos!