terça-feira, 10 de agosto de 2010

“Chegou ao seu destino…” Parte III

Já com as malas feitas, fomos a Ceclavin, pois o gasóleo de “nuestros hermanos” é bem mais em conta. Nota-se logo a diferença das estradas quando se passa a fronteira.
Seguimos então para o Ladoeiro, onde decorria o último dia do festival da melancia.
Exposição e venda de melancias, doces de melancia, gelado de melancia, sumos naturais de melancia, caipirinha de melancia; é a verdadeira festa da melancia...
Organizado pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, o festival da melancia destina-se a promover um dos melhores produtos agrícolas da região.
Os agricultores da região dizem que não há melancia como a do Ladoeiro, cujo segredo do sucesso assenta “na boa terra, boa água e estrume”.
A sementeira começa em Abril e a chegada da festa de S. João é sinal de que está pronta a consumir.
Nas bancas havia duas variedades de doce de melancia: uma de cor vermelha e outra de cor branca, que despertava mais curiosidade. A de cor vermelha é confeccionada com a polpa, sendo um doce tradicional, com açúcar e pau de canela. A de cor branca é feita da parte branca da casca, e leva mais condimentos porque não tem doce.
A caipirinha de melancia é feita com o sumo, vodka, limão e açúcar amarelo.
O gelado de melancia era vendido em duas variantes: uma com miolo de melancia triturada e outra com adição de leite condensado e ripas de chocolate.
Para além de melancias havia outros expositores com produtos tradicionais e regionais, desde o mel, aos queijos e enchidos, os adufes, as bonecas feitas de pano, os têxteis, etc… Tudo confeccionado pelas mãos hábeis dos artesãos locais…
Tudo isto animado por espectáculos de música e jogos tradicionais.
O Tiago teve oportunidade de assistir ao vivo, ao seu primeiro leilão: “quem dá mais, quem dá mais por este belo leitãozinho?” Entre alguns grunhidos, alguém o levou por €60,00.
“E estes 3 casais de marrecos, acabadinhos de vir de lua-de-mel, quem dá mais, quem dá mais?” Também se venderam por €55,00.
O início do concurso das melancias esculpidas estava marcado para as 18 horas. Ainda esperámos muito tempo, mas como fazia tanto calor, adiaram a exposição para as 19:30h e mantiveram as melancias bem guardadas em arcas frigoríficas.
Como a essa hora já se fazia muito tarde para nós, que ainda tínhamos de percorrer tantos kms até Lisboa, com muita pena, metemo-nos ao caminho, com a esperança de quem sabe para o ano?
Pelo que acabámos por não saber qual foi a melancia mais pesada e que escultura ganhou…Mas para o ano haverá mais, se Deus quiser…


"Chegou ao seu destino…” Parte II

Apesar dos contratempos da viagem, este foi sem dúvida um fim-de-semana especial.
Perguntei várias vezes à Ana se gostou da nossa vila e ela disse que sim.
Optámos por ficar Sábado em Salvaterra e Domingo, já de partida para Lisboa, passar pelo Ladoeiro. Ainda iríamos a tempo de ver o concurso das melancias esculpidas (ou pelo menos, foi o que pensámos)…
Mesmo assim, penso que correu tudo bem.
Só houve uma coisa que nos estragava sempre os planos: o calor insuportável. Nem uma brisa corria. Só estávamos bem debaixo da mangueira ou do chuveiro no quintal. O Tiago então, de mangueira sempre na mão, deve ter tomado no Sábado, para aí uns 10 banhos, lol…
Ainda assim, mostrámos à Ana o máximo que pudemos de Salvaterra.
Levámo-la a ver o rio Erges, ou melhor: foi ela quem nos levou…
Não podíamos deixar de lhe mostrar o pelourinho do século XVI, no largo da praça, a Torre do Relógio, e a antiga Casa da Câmara, marco de que Salvaterra foi sede de Concelho até 1855…
Percorremos algumas ruas da velhinha Salvaterra, detendo-nos nos pormenores de certas casas.
“Estudámos” o monumento de homenagem aos antigos combatentes em ultramar.
Decifrámos a numeração romana inscrita no cruzeiro.
Visitámos as antigas escolas primárias, espaço onde outrora ecoavam risos alegres de crianças; hoje em completo silêncio…
E no café Capelo, soubemos que decorria nessa dia um passeio nocturno intitulado: “no trilho das estrelas e do contrabando”. Ainda fomos ao adro da igreja ver se havia possibilidade de também irmos. Mas já tinham tudo preenchido com 200 participantes já inscritos.
Pena que não tivéssemos sabido antes, e teríamos feito a inscrição a tempo. Mas depois também comecei a pensar: será que a Ana aguentaria tanto km a pé de Salvaterra à Zarza? Ela dizia que sim, que aguentava. Mas o que é certo, é que ela não está habituada a fazer caminhadas com tanto calor, ainda que a partida fosse só às 19h. Ela nem sequer gosta de usar chapéu. As poucas vezes que usou, quase tive de a obrigar…
Já se pôs cá muita gente doente, por causa do Sol, e não iria arriscar.
Mesmo assim, o rapaz que estava a organizar tudo, deu-nos um folheto com a informação do site onde pudemos estar actualizadas quanto aos eventos que vão ocorrer, e aí também, podemos fazer atempadamente a inscrição: www.turismodenatureza.com.
Faço aqui publicidade, porque são passeios muito interessantes, e com guias, o que é sempre melhor, do que fazer os mesmos percursos sozinhos.
E porque andar a pé é bom, faz bem à saúde e recomenda-se…
Pois não fomos ao passeio que estavam a organizar, mas acabámos por fazer o nosso próprio passeio, e fomos cansar a Ana na “rota dos abutres”.
Colocámos bastante protector solar, obrigámos a Ana a pôr o chapéu, e pusemo-nos ao caminho.
O nosso ponto de partida foi junto à Igreja Matriz, no adro, agora com o ninho vazio da cegonha, que já deve ter partido com os filhotes nascidos na Primavera…
Ao sair da povoação, fomos mostrando à Ana as furdas, que muita gente pensa ter servido só de abrigo para os porcos, mas na realidade são antigos castros: fortificações onde os audazes lusitanos se aquartelariam para, depois, lançar os seus ataques contra os invasores romanos.
Percorremos a calçada romana até à Caseta, o antigo posto da guarda fiscal. Aqui nos sentámos a descansar, e contemplámos a deslumbrante paisagem. Hoje, a Caseta tem gravada nas suas paredes, imensos nomes de quem por aqui passa e mensagens amorosas. Mas tem também gravada na mente dos sobreviventes desta terra, muitas das histórias de contrabando, que testemunhou… Tempos difíceis de quem tudo fazia para sobreviver e alimentar muitas bocas…
Do lado de lá do rio já se avista o Castelo de Peñafiel. Ali já é território da Extremadura espanhola. Com um pouco de sorte, podem-se ver os seus habitantes actuais, os grifos, ou abutres, pairando no ar. É nessa escarpa que nidificam.
E quem tiver paciência para esperar, também pode, um pouco mais acima da Caseta, meter-se dentro do observatório de aves, e aguardar o voo de quem vigia atentamente este território: os grifos, os abutres negros, os abutres do Egipto, a águia de Bonelli, a águia cobreira, a cegonha negra, o guarda rios, etc… Aconselham-se binóculos…
Da Caseta continuámos a descer, rumo à Fonte da Ribeira.
Quem ia à frente era o Tiago, que já conhece bem o caminho. Às vezes afastava-se e deixávamos de o ver. Mas era a pressa dele em chegar.
Numa dessas vezes, voltou a correr aflito para cima a dizer-nos: “já não podemos continuar… ali à frente está uma coisa perigosa, que eu nunca tinha visto, e já não podemos passar…”
A primeira coisa que me veio à cabeça foi um animal selvagem, e pensei logo num javali. Ainda fiquei a matutar, que faria se o bicho viesse atrás de nós. Por acaso não faço ideia de como proceder face a um javali. E que os há lá na terra, há…
Ou podia ser uma cobra…
Mas o Tiago não conseguia explicar o que era. Perguntei-lhe várias vezes se era um bicho, e dizia sempre que não. Mas não sabia o que era. Ele nem conseguia falar de tão assustado e ofegante que estava.
Que raio? Então já percorremos este caminho todo, e agora só por causa de algo, que nem sabemos o que é, não vamos poder chegar às gargantas do rio? O local que queria mesmo mostrar à Ana…
Não podia ser! Se não era bicho, então não nos devia fazer mal.
Fui à frente, com muito cuidado, e ao passar junto a um sobreiro de tronco grosso e alto, ouvi um zumbido enorme, de meter respeito. Também nunca tinha passado por uma colmeia habitada por um ruidoso enxame de abelhas. Confesso que também tive receio, mas pensei: se passarmos caladinhos, sem sequer olhar para cima, e rapidamente, talvez elas percebam que não estamos ali para lhes fazer mal, que até as respeitamos e só queremos passar pelo único caminho existente para a Fonte…
E quando vi que passei e nada aconteceu, fiz-lhes sinal para prosseguirem também eles calados. E quando nos voltámos a juntar, sem que nada acontecesse, confesso que até tinha perdido as forças nas pernas, lol…
Mas não fui só eu, porque até ao “corajoso” do Tiago faltaram, lol…
Ao chegar à Fonte da Ribeira pudemos recuperar as forças e refrescar-nos com a água fresquinha que ainda ali corre.
Descemos então, mais um pouco, e vamos dar às gargantas do rio Erges, com fragas admiráveis e seculares. “Tudo isto já faz parte do Geo Park do Tejo Internacional”, explico à Ana. Uma paisagem maravilhosa, onde nossos olhos se perdem… Um local que espero se mantenha sempre assim: puro e inalterado.
Claro que a paisagem agora é completamente diferente, pois no fim do Inverno e Primavera, o rio vai muito mais cheio e é mais bonito de se ver, pois forma cascatas onde a água corre fortemente.
Mas mesmo com pouca água, ainda continua digno de uma visita.
Para cima, não fomos pelo mesmo caminho, pois queria mostrar à Ana, uma frase inscrita de 1895, num local de muita paz e repouso dos que já partiram, uma frase em que ninguém pensa, no campo da “egualdade”.

“Ora aqui está uma grande verdade!” – dizia ela…


Para baixo, como se costuma dizer: “todos os santos ajudam”, agora o caminho para cima, de regresso a casa, é que foi mais penoso.
Chegámos a casa muito sujas, pois o pó colava-se ao protector solar; cheias de calor, cansadas, mas rejuvenescidas…
No Domingo não fomos a tempo de ver o interior da igreja matriz, pois quando abre, à hora da missa, estávamos nós a dormir…
Mesmo assim, antes de seguirmos para o Ladoeiro, ainda passámos no Chafariz da Devesa, ao pé da capela de Nossa Senhora da Consolação. Este chafariz, construído em meados do século XVIII, abastecia a povoação de água potável. Diz-se na placa informativa que ali colocaram, que servia também para as mulheres lavarem a roupa. O que é certo, é que não me lembro nunca de minha avó ter lavado ali a roupa, mas sim dos animais irem lá saciar a sua sede. Lembro-me bem, era da roupa lavada, em pedras bem escolhidas, no rio Erges. Era um dia de festa para mim: poder passar o tempo todo dentro de água…
Algumas coisas ficaram por mostrar à Ana, mas espero ter outras oportunidades, se possível com o tempo mais fresquinho, que é quando se anda melhor…

“Chegou ao seu destino…” Parte I

“Chegou ao seu destino…” – disse a voz masculina, assim que se ligou o GPS, ainda estávamos à porta de casa… Agora pensando melhor, este foi um sinal para nem o tivéssemos ligado…
Mas a curiosidade do Tiago pelo aparelho, fez com que lá marcássemos o destino: Salvaterra do Extremo. Só que tínhamos duas opções: a N240 ou a N332. Como marcámos a opção errada, aconteceu que logo ao chegar a Castelo Branco já o GPS dizia para sairmos na 1ª saída, em Castelo Branco Industrial. Como não fizemos caso e seguimos em frente, disse-nos para sairmos na 2ª, em Hospital. Como também não fizemos caso, mais à frente, numa rotunda, em que sei que costumo sair na 2ª, o GPS disse-nos para sair na 1ª. A Ana só me dizia assim: “oh, Cristina, se calhar é melhor fazermos o que ele diz…” E eu, que já vinha baralhada, a pensar porque raio o GPS nos foi dizendo para sair em todas as saídas por que passámos, acabei por dizer-lhe, “está bem”.
E a Ana virou novamente para a A23.
Quando chegámos a Penamacor, disse-lhe: mas nós não costumamos passar aqui.
Aí já o GPS dizia: “assim que puder, faça inversão de marcha”.
Que vergonha, pensava eu… Como pude deixar que a Ana virasse onde o GPS dizia??
Quando chegámos a uma rotunda, encostámos um bocadinho à direita e perguntámos a um carro que nos ia a passar, o caminho para Salvaterra. E os moços, nem sequer sabiam onde ficava, mas ainda nos disseram: nós vamos para Alcains, se quiserem podem seguir-nos e daí se calhar já vão para Salvaterra.
Quando passam então à frente, fartámo-nos de rir as duas, pois o carro tinha matrícula francesa…
Oh, vergonha das vergonhas, eu que já lá fui tantas vezes, ter-me enganado assim, e agora íamos atrás de uns franceses…
Mas também não andaram muito, pois logo à frente havia uma brigada da PSP a mandá-los parar…
Oh que alegria a nossa, àquela hora tardia da noite, ver polícias a quem pudéssemos pedir informações. Os franceses tiveram de parar e nós que queríamos parar também, só para pedir informações, o polícia fazia-nos sinal para que continuássemos. Mas desrespeitámos a lei e parámos mesmo, pois estávamos completamente perdidas.
Então contámos-lhe a nossa aventura e como chegaríamos agora ao nosso destino… Ele retorceu o bigode, como que a pensar: como é que tendo GPS e tudo, estas mulheres vieram aqui parar, lol…
Então sugeriu-nos algo, que nos espantou às duas: “ali mais à frente, se aproveitarem bem a curva da estrada, dá para virarem para trás…”
Ele estava a sugerir que assim que entrássemos na auto-estrada fizéssemos inversão de marcha e passássemos traços contínuos e tudo…
Realmente dava para fazer isso, na escuridão da noite, viam-se bem os faróis dos carros, se algum viesse de frente, mas cometer uma infracção daquelas? E ainda por cima sugerida por um policia?
Nã! A Ana desconfiou que andassem à caça da multa, e acabou por não o fazer.
Ficámos sem saber se realmente o policia andava à caça da multa ou se estaria a ser amigo, pois ao seguir em frente acabámos por “visitar” Escalos de Cima, Oledo, Idanha-a-Nova, etc…
Enfim, uma grande volta desnecessária…
E que alegria, quando em pleno breu, avistámos no cimo do monte, Salvaterra iluminada.
Aqui já o GPS vinha calado, pois logo na Zebreira disse: “chegou ao seu destino…” lol…
E o nosso destino era mesmo mostrar Salvaterra do Extremo à Ana, que nunca lá tinha ido, e passarmos no festival da melancia do Ladoeiro. Saímos de casa Sexta-feira ao fim da tarde, e acabámos por chegar Sábado às tantas da manhã… E mesmo àquela hora o termómetro marcava 39 graus. Estava um calor insuportável. Depois foi arejar a casa, limpar a bicharada do chão, que mesmo com a casa fechada, eles conseguem sempre entrar, e deitarmo-nos, exaustas da longaaaaaaaa viagem…